Aprendizagem na disciplina ocorre a longo prazo. Levar o aluno a entender o contexto, usar jogos e tecnologia podem tornar processo mais agradável
13/04/2010 | 00:11 | Tatiana Duarte - educacao@gazetadopovo.com.br
E a dificuldade com a disciplina se arrasta desde as séries iniciais. Na 4.ª série, de acordo com dados do Saeb, os alunos dominam habilidades que deveriam ter vencido na 2.ª série (veja tabela). O Saeb é um dos exames que integra a avaliação da educação básica no Brasil. É feito a cada dois anos e avalia uma amostra dos alunos matriculados nas 4.ª e 8.ª séries do ensino fundamental e 3.º ano do ensino médio, de escolas públicas e privadas, localizadas em área urbana ou rural.
Método aposta no ensino individual
Fundado em 1985 pelo professor Toru Kumon, no Japão, o método Kumon aposta no atendimento individualizado para trabalhar não só com a matemática, mas também outras disciplinas, como Português, Inglês e Japonês. Atualmente 4,2 milhões de alunos em todo o mundo são atendidos pelo Kumon. De acordo com o coordenador de orientação matemática do Kumon no Brasil, Benedito Silva Filho, a principal característica é que cada pessoa ultrapassa os níveis de dificuldade de acordo com suas necessidades. “Muitas crianças chegam na 5.ª série e já carregam dificuldades que ficaram para trás. Aqui ele vai iniciar pelo conteúdo que já domina e se sentirá mais à vontade para estudar”, diz.Olimpíada estimula estudo
O governo federal continua apostando na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) para, entre outras coisas, melhorar o desempenho de professores na educação da disciplina e estimular o estudo da matemática. Uma avaliação econômica solicitada pelo Ministério da Educação (MEC) à Fundação Itaú Social mostra que a iniciativa tem tido bons resultados.Entrevista: As crianças sabem, mas não conseguem se expressar
Aos 76 anos, o professor da Universidade Paris Gerard Vergnaud já orientou mais de 80 teses de mestrado e doutorado. Formado em Psicologia, é diretor do Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS, na sigla em francês), em Paris. Fez a própria tese de doutorado com ninguém menos que Jean Piaget, um dos teóricos mais estudados no campo da Pedagogia. O professor francês esteve em Curitiba no mês passado, quando concedeu a seguinte entrevista à Gazeta do Povo.Para Vergnaud é possível, mas difícil, tornar o ensino da matemática mais atraente, devido à seriedade que permeia a disciplina. “Ao mesmo tempo em que há situações que se aproximam das vividas pelos jovens e crianças, a matemática é uma coisa muito séria. E por isso, a maior parte das crianças se enche. O uso de atividades lúdicas com a seriedade da matemática é um equilíbrio difícil de achar”, diz.
Trabalhar com o lúdico e a contextualização da matemática foi a solução encontrada pela professora do Colégio Novo Ateneu Juliana de Moraes Campos, que leciona a disciplina para crianças e adolescentes há 12 anos. A professora envolveu seus alunos da 5.ª série do ensino fundamental com a história da matemática. Depois de ter pesquisado sobre o assunto, cada estudante criou seu próprio sistema de numeração. “Temos de mostrar para a criança que a matemática não surge do nada na vida dela. Dá para vincular os conteúdos com o dia a dia usando novas metodologias”, diz.
Há 12 anos, os alunos do pré à 4.ª série do ensino fundamental do Centro Municipal de Educação Infantil David Carneiro, no Xaxim, usam mesas com blocos desenvolvidas exclusivamente para o ensino da matemática. As aulas com as mesas ocorrem uma vez por semana. Antes e depois os conteúdos são abordados em sala de aula. De acordo com a professora Cristiane Inês Bassa, a tecnologia permite uma melhor visualização de situações matemáticas. “Serve como um complemento da aprendizagem”, diz.
A mesa tem blocos coloridos e é integrada a um computador que permite o uso por até seis crianças simultaneamente. Contém jogos e exercícios que dão noções de lateralidade, direção, medidas e lógica. Para a estudante do 3.ª ano Bianca Ferreira Fidelis, 8 anos, dispensar a escrita dos números é um dos pontos positivos do uso da tecnologia. “Sem contar que aqui é muito mais divertido”, diz.
Para uma das desenvolvedoras da tecnologia, a matemática Vanessa Moraes, as novidades tecnológicas servem para facilitar, mas sozinhas não garantem o sucesso do aprendizado. No caso das mesas, a matemática acredita que um dos principais ganhos é que o software não obriga os alunos a acertar os exercícios. “A criança se sente mais à vontade para treinar no computador. Sabe que pode retornar e tentar de novo. A observação ocorre de maneira mais lúdica. Já com a presença do professor o sentimento é de que está sendo repreendida”, diz.